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PORTUGAL – INDENIZAÇÃO DE CINCO MIL EUROS POR FALSO DIAGNÓSTICO DE HIV

Clínica de Torres Vedras reconheceu o erro e não chegou a contestar a acção judicial interposta por mulher de 40 anos que experimentou dano moral decorrente de erro de diagnóstico positivo de HIV.

A notícia atingiu-a com a eficácia de um tiro à queima-roupa: “A senhora tem HIV”. Com 40 anos e dois filhos, Ana Cristina entrou em depressão. Deixou de comer, de acompanhar os filhos à escola. Sabia que não tinha tido comportamentos de risco e, por isso, presumiu que a culpa era do marido, operário da construção civil em França. “Em menos de três meses perdi sete ou oito quilos”, recorda.

A vida só retomou a normalidade três meses depois quando um terceiro teste confirmou que tinha havido um erro e que, afinal, esta residente numa aldeia da Lourinhã não era portadora do vírus. A semana passada, o Tribunal de Torres Vedras reconheceu-lhe o direito a ser indemnizada em cinco mil euros. A ré, a clínica Soerad, não contestou sequer a acção. “Realmente existiu um erro, que nós já corrigimos, e o importante é que, com o software que adquirimos, a hipótese de repetição de casos como este é praticamente nula”, asseverou Rui Silvério, sócio-gerente da clínica.

Precisamente para evitar que mais alguém viva um suplício semelhante é que Ana Cristina avançou com o caso para tribunal. “Queria que a clínica percebesse que com a saúde das pessoas não se pode brincar”.

Ana Cristina pediu análises ao sangue na Clínica Soerad porque tencionava submeter-se a uma operação aos seios. As análises foram efectuadas a 17 de Novembro de 2006. Quatro dias depois, Ana é informada de que tinha o vírus da imunodeficiência adquirida. “Entrei em choque. A minha filha, na altura com 15 anos, e o meu filho, com sete, julgaram que iam ficar sem mãe. Aliás, a mais velha perdeu o ano lectivo porque ficou sem cabeça para estudar”, recorda. Nesse Novembro, Ana Cristina esteve sem sair de casa durante dias a fio. “Entrou em depressão”, lê-se na acção. Pelo meio, a desconfiança de que o marido, ausente em França, a pudesse ter traído. “Eu sabia que não lhe tinha sido infiel. No fim, o que nos salvou foi termos acreditado um no outro. De contrário, o casamento não tinha aguentado.”

No meio do choque inicial, foi a cirurgiã plástica quem a lembrou da necessidade de repetir as análises para confirmar o diagnóstico. As segundas análises, feitas na Soerad, deram negativo. Semanas depois, novas análises no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, confirmavam que não havia contágio por HIV.

Ao PÚBLICO, Rui Silvério, da Soerad, explicou que a clínica não chegou a contestar a acção porque “houve um erro na introdução manual dos valores das análises no sistema informático e a senhora merece ser compensada pelo que sofreu”. O importante agora, sublinhou aquele responsável, é que, “com o novo software, a hipótese de erro diminuiu para 99,999 por cento”.

por Natália Faria in “Público” – 10.Nov.2009

Publicado por: Jorge Frota

http://www.netconsumo.com/2009_11_01_archive.html

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Site publicado em 04/05/2009
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