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Lipoaspiração feita em consultório e sem anestesista traz complicações graves.

Hidrolipo, lipolight, minilipo, lipolaser. As novas plásticas que prometem reduzir a gordura localizada são muitas, e o perigo para a saúde é alto. Com uma isca oferecendo um corpo torneado e esbelto rapidamente e sem sofrimento, clínicas de estética têm atraído incautos para uma armadilha, que pode ser letal. Diante desse risco, maior no verão, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) reforçou o alerta de que a cirurgia de lipoaspiração é uma só, e só deve ser realizada por médico especializado e em centro cirúrgico.

A lipo é o segundo procedimento mais realizado no Brasil depois de implante de silicone nas mamas. Das 700 mil plásticas estéticas ao ano no país, 140 mil são de lipo. Mas a SBCP estima que esse número é maior, já que a operação é praticada também por médicos sem registro na SBCP (www2.cirurgiaplastica.org.br). Daí a importância do alerta. Só no primeiro semestre de 2010, quatro mulheres morreram, em diferentes cidades brasileiras, durante lipoaspiração.

Num dos casos de maior repercussão, a jornalista Lanusse Barbosa, de 27 anos, morreu quando a cânula de aspiração de gordura rompeu seu abdômen, perfurando uma veia do rim. É preciso desconfiar de anúncios oferecendo lipo como se fosse um tratamento estético, diz Sebastião Nelson Edy Guerra, presidente da SBCP:

- Há quem pense que a lipoaspiração é algo simples; basta enfiar uma cânula com soro, adrenalina e anestésico e aspirar a gordura. Recebemos de 180 a 300 consultas por mês de pacientes com dúvidas sobre esse tratamento. Hidrolipo, minilipo, lipolight entre outras são todos nomes fantasia. Minilipo significa meio procedimento, meio resultado, menos satisfação. Segundo Edy Guerra, lipoaspiração só existe uma.

- Aplicação de laser na lipo, por exemplo, já foi tentada há 20 anos, sem bons resultados. Agora alguns médicos estão experimentando novamente a técnica, mas ainda não há estudos provando que o laser é melhor que o método convencional. Só que o termo laser atrai clientes – afirma.

Clínicas dispensam anestesistas

Tomaz Nassif, chefe da seção de microcirurgia reconstrutora do Hospital dos Servidores do Estado do Rio e professor do curso de pós-graduação em cirurgia plástica da PUC-RJ, reforça o alerta de Guerra. Ele é categórico ao afirmar que os novos nomes para a lipoaspiração são apenas marketing. É uma forma de seduzir clientes dizendo que se trata de procedimento simples para eliminar gordura, barato e rápido (cerca de 30 minutos, enquanto a lipo tradicional dura de 2h a 4h), feito em clínica e com anestesia local:

- Tudo isso aliado à facilidade de pagamento, já o que o custo é menor porque você não paga o anestesista. Isso é um perigo e o barato pode sair caro.

O preço médio de uma lipoaspiração tradicional, dependendo da parte do corpo, varia de R$ 4 mil a R$ 7 mil. Nas lipos de consultórios há quem cobre de R$ 800 a R$ 2 mil, ou mais. Nassif explica que uma lipo bem feita requer todo o cuidado, e quando se aplica anestesia local num procedimento o perigo é maior, devido à possibilidade de usar o anestésico em dose tóxica. Ele lembra algo que muita gente esquece.

- As pessoas só veem as cicatrizes ou cortes externos da lipo convencional, que são muito pequenos, porém a cicatrização interna é extensa. Daí a importância de se seguir à risca as recomendações médicas no pós-operatório, como usar cinta e repousar por pelo menos 30 dias – diz Nassif.

A cirurgiã plástica Valéria Destéfani, da SBCP e da Clínica Dermocare, concorda com ele. Ela explica que a lipo é uma plástica que requer profissional habilitado pela SBCP, avaliação pré-operatória e de risco cirúrgico (com exames clínico cardiológico, laboratoriais, inclusive para função renal) e instrumental específico, devendo ser praticada em centro cirúrgico:

- Se a lipo for bem feita e a pessoa se cuidar, seguindo a orientação médica, adotando hábitos saudáveis, o resultado dura a vida toda. A técnica pode ser usada também para a lipoescultura, quando se aproveita parte da gordura retirada do próprio paciente para preencher glúteos, vincos da face, por exemplo. Às vezes se associa a cirurgia de abdômen à lipo.

Técnica não serve para emagrecer

A médica acrescenta que a lipo é mais indicada para pessoas próximas de seu peso ideal, mas que apresentam depósitos de gordura localizada; a gordurinha que não some com ginástica e parece aumentar de tamanho quando vestimos uma roupa mais justa. As mulheres que tiveram filhos devem esperar pelo menos seis meses an$de operar, quando o corpo já se recuperou melhor das alterações normais da gravidez.

- A lipo ficou muito banalizada, e não é para obesos que precisam perder peso. Nesses casos, a lipoaspiração é até arriscada, devido à grande perda de sangue associada – explica.

Isso porque a lipo não emagrece, nem acaba com a flacidez, diz o cirurgião plástico Rodrigo Mangaravite, autor do livro “O que a cirurgia plástica pode fazer por você” (3R Estudio Comunicação) e professor de pós-graduação na Santa Casa de Misericórdia do Rio.

- Minilipo, hidrolipo, lipolight e outras implicam retirar menos gordura localizada, em consultório, o que significa que será preciso repetir o procedimento – comenta. – Mesmo com a lipo a laser é importante ter cautela. Vi casos de pacien$que sofreram queimaduras graves.

Mangaravite prefere a vibrolipoaspiração. Na verdade, é a técnica tradicional com cânula ligada a um aparelho que faz um movimento de vai e vem conectado a um aspirador. Segundo ele, ela facilita o trabalho do cirurgião, que faz menos força, e é mais confortável para o paciente porque diminui o trauma nos tecidos e o tempo de operação, porque permite aspirar a gordura mais rapidamente.

A SBCP destaca que é preciso refletir muito antes de bater à porta de clínicas de estética que oferecem lipos por preços acessíveis, com a promessa de ótimo resultado em pouco tempo.

09/01/2011

Antônio Marinho

O Globo

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Site publicado em 04/05/2009
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