Flávio Citro - Direito Eletrônico

Adoção de novo padrão de plugues de três pinos certificados pelo Inmetro

CURTO-CIRCUITO NO BOLSO

Especialistas alertam que, apesar de maior segurança, padronização de plugues e tomadas terá custos.

Custo versus benefício. Esse é o grande debate quando se fala do padrão brasileiro de plugues e tomadas, que passa a ser de adoção obrigatória em todos os equipamentos eletroeletrônicos produzidos a partir de janeiro do ano que vem. Para adaptar a casa ao padrão — que restringe de 14 para dois os modelos de plugues e tomadas — e usufruir integralmente da maior segurança, da qual falam os defensores do sistema, os consumidores vão precisar investir. Cada tomada custa, em média, R$8. Levando-se em consideração que cada cômodo da casa tem quatro tomadas, para adaptar completamente um apartamento de três quartos, por exemplo, o gasto com material seria de cerca de R$220. E de mão de obra, em torno de R$280 (R$10 por tomada). Ou seja, R$500. Isto se a fiação estiver em ordem, pois no caso de imóveis sem aterramento, a realidade da maioria das construções brasileiras, esse investimento seria bem maior.

— Para fazer o aterramento de um prédio de dez andares, o custo da instalação para o condomínio ficaria em torno de R$7 mil, a ser rateado entre os moradores. Cada unidade gastaria, individualmente, cerca de mil reais — estima Clóvis Zambon, eletricista com 20 anos de experiência.

Marco Aurélio Sprovieri, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material Elétrico e Aparelhos Eletrodomésticos de São Paulo (Sincoelétrico), teme que a adoção do padrão brasileiro, em vez de aumentar a segurança, aumente os riscos:

— Temo que as pessoas busquem um “jeitinho” para fazer a adaptação, descasquem fios, troquem o plugue, perdendo a garantia do produto. Não entendo por que mudar, se tínhamos antes um padrão formidável, das tomadas universais, que aceitava plugues chatos e redondos, em vigor há 70 anos — questiona Sprovieri, que vê a medida como uma forma de beneficiar os produtores de plugues e tomadas.

Alessandra Macedo, coordenadora técnica da área de produtos da Pro Teste — Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, apesar de entender a necessidade da padronização, também discorda da forma como o padrão foi estabelecido:

— É saudável o governo, representado pelo Inmetro, se preocupar com segurança. No entanto, o padrão brasileiro foi estabelecido com base em países sem representatividade comercial com o Brasil. Além disso, acho que deveria ter sido levado em conta, na hora da escolha, o padrão que já era mais utilizado entre os muitos em uso no país. A padronização deveria ter começado pelas voltagens. O Brasil é o único lugar do mundo com duas tensões residenciais: 110V e 220V.

Gustavo Kuster, gerente da Divisão do Programa de Avaliação da Conformidade do Inmetro, esclarece que o padrão de dois pinos redondos é o mais comum no país:

— Cerca de 80% dos eletroeletrônicos que temos em casa são de dois pinos e se adaptam perfeitamente à nova tomada. A maior mudança é nos plugues de aparelhos como ar-condicionado e geladeira, que têm fio terra para dar maior segurança. Antes esse fio podia vir fora da tomada para ser instalado pelo consumidor ou em tomadas em formato Y, vai ter que sair de fábrica no plugue com os três pinos, agora alinhados.

Consumidor vai precisar de adaptador para importados

Com o novo padrão são eliminados os pinos chatos, padrão americano, por uma questão de segurança, explica Kuster:

— Os pinos chatos não são problemas para países como os Estados Unidos, em que a variação de tensão é mínima. Para nós, isso não funciona, pois, além de haver maior risco de problemas de encaixe e choques, esse formato provoca maior aquecimento e risco de curto-circuito. Chegamos a avaliar o padrão alemão, que é considerado um dos mais seguros, há caso de tomada com fusível, mas isso seria muito caro para nós. É preciso um período de transição entre o 0% de segurança que temos agora e os 100% no qual queremos chegar.

Em relação às questões comerciais, Geraldo Nawa, analista de normas técnicas da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), garante que o novo padrão não atrapalha a indústria no que diz respeito à exportação:

— Para exportar não mudou nada, sempre foi preciso respeitar o padrão adotado pelo país de origem.

No caso da importação, diz Luiz Zanardi, representante da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), também não há mudanças.

— Os fabricantes já eram obrigados a usar plugues certificados pelo Inmetro. Agora só terão que se restringir ao novo padrão — diz Zanardi, acrescentando que o maior ônus é para o consumidor que trouxer mercadorias do exterior. — Nesse caso, será preciso usar adaptador, mas isso já acontecia em muitos casos.

Kuster, do Inmetro, destaca ainda que agora os adaptadores são certificados, o que confere maior segurança. Para o assessor técnico, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Marcos Pó, a certificação dos adaptadores é, de fato, uma das vantagens da padronização:

— Antes eles eram muito inseguros e não tinham um padrão. Agora os consumidores estarão mais protegidos. O processo de transição é demorado, mas a tendência com a padronização, além da segurança, é que haja uma queda de custo para o consumidor.

Para quem tem dúvida se vale a pena o investimento, o especialista do Inmetro destaca os números do corpo de bombeiros de São Paulo:

— Em dez anos, dos 35 mil incêndios residenciais na capital paulista, seis mil começaram a partir de problemas de conexão de plugues e tomadas.

Jornal: O GLOBO

01/11/09

Luciana Casemiro   

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Site publicado em 04/05/2009
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