Sites de compras mudam para sobreviver.
SÃO PAULO — Depois do “boom” registrado no ano passado, quando o faturamento do setor alcançou R$ 1,6 bilhão, os sites de compras coletivas passam hoje por um processo de reconstrução. Num cenário de crescimento pífio da economia e de consumidores mais exigentes, cerca de 300 empresas fecharam as portas desde janeiro. Quem se mantém no mercado busca novas formas de atuação para fisgar outra vez a atenção do público. Uma saída tem sido a diversificação de serviços e a melhora da qualidade.
De acordo com dados do Info Saveme — que é um levantamento realizado pelo “agregador” (uma espécie de portal) de compras coletivas Saveme e pela consultoria e-bit — o número de sites de compras coletivas caiu 25%, de 1,2 mil para 900. A e-bit espera que o faturamento do setor cresça entre 5% e 10% neste ano, superando com folga a projeção para o PIB geral do país, mas menos da metade da alta de 20% estimada para o comércio eletrônico como um todo. Nos nove primeiros meses do ano, as empresas de compras coletivas faturaram R$ 1,192 bilhão, valor 7,3% superior ao R$ 1,11 bilhão registrado no mesmo período ano passado, de acordo com o Info Saveme.
— No ano passado, tivemos uma explosão de compras coletivas em cima da novidade. Neste ano, as pessoas entenderam como funciona e começaram a reclamar sobre a qualidade — diz Cris Rother, diretora de negócios da e-bit.
Responsabilidade Solidária.
O crescimento desordenado, sem dar atenção à infraestrutura, também justifica o desempenho mais moderado das compras coletivas, na avaliação de Alberto Albertin, coordenador do Centro de Tecnologia e Informação Aplicada da FGV. Segundo ele, o despreparo para atender à demanda desencantou os consumidores.
— O ano passado foi de expansão e agora o segundo ano é de profissionalização — concorda Guilherme Wroclawski, diretor do Saveme.
A dificuldade da entrega dos produtos e dos serviços e o descumprimento do que é anunciado na oferta estão entre as principais reclamações dos consumidores, de acordo com Renan Ferraciolli, assessor chefe da Fundação Procon São Paulo. São problemas, em geral, relacionados à má qualidade dos fornecedores que anunciam suas ofertas nesses sites. Pelo dados do Procon-SP, houve um aumento de mais de 400% nas reclamações contra sites de compra coletiva no primeiro semestre de 2012, se comparadas ao ano passado. A instituição, que já aplicou R$ 250 mil em multas a empresas do setor, propôs um compromisso público para a melhora dos serviços.
— A empresa de compra coletiva é responsável solidária e acaba respondendo pela qualidade do serviço prestado por essa infinidade de fornecedores — diz Ferraciolli.
Os sites de compras coletivas responderam recentemente com a expulsão do Groupon do Comitê de Compras Coletivas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), instituído para fazer a autorregulamentação do setor. Segundo o órgão, o Groupon descumpriu o Código de Defesa do Consumidor por oferecer smartphones e tablets não homologados no Brasil. O Groupon está entre os três maiores do setor, junto com Peixe Urbano e ClickOn.
Internamente, a busca por qualidade tem se refletido num processo mais criterioso de seleção de fornecedores. O ClickOn, por exemplo, cortou dois mil fornecedores este ano, de acordo com o presidente da empresa, Guilherme Ribenboim.
— Começamos a discutir com o fornecedor qual é a melhor estratégia, entender se a intenção da oferta é lançar produto ou dar vazão à ociosidade — diz Ribenboim.
Migração para e-commerce.
Segundo ele, frente a esse novo cenário, o site está migrando para algo mais parecido com o e-commerce do que com as compras coletivas. Há três meses, o Clickon lançou uma seção de fotografia, que oferece permanentemente serviços como revelação e produtos como álbuns. Em setembro, foi a vez de entrar com a seção dedicada a teatro.
O Peixe Urbano tem também lançado outros braços de negócio, como serviços de reserva de restaurantes e de entrega de comida a domicílio. Essa estratégia guiou a compra de Zuppa, de reservas em restaurantes, e O Entregador, de entregas, além do recente lançamento do serviço Peixe Urbano Delivery neste ano.
O sócio-fundador do site, Emerson Andrade, diz que a tendência é que a compra coletiva seja mais uma área dentro do Peixe Urbano no futuro, em vez de ser o carro-chefe da empresa.
— Sempre soubemos que as compras coletivas não iriam crescer para sempre, por isso tratamos esse mercado como forma de começar o nosso projeto, de ajudar as pessoas a explorar a cidade — diz Andrade.
Já o Groupon investiu em novas tecnologias para a compra coletiva, como o aplicativo para celular, que permite a compra dos cupons e utilização imediata além de uma plataforma de reservas. Para Patrick Schmidt, vice-presidente da empresa para a América Latina, os investimentos trarão uma experiência mais personalizada e mais qualidade.
— Lamentamos muito o ocorrido — diz Schmidt.
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