RIO – Um atraso de quase dez horas de um voo da Tam entre São Paulo e Curitiba pode estar entre os problemas que levaram a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a notificar a empresa, que pode ser multada se não prestar esclarecimentos sobre falta de assistência a passageiros. A série de falhas ocorreu na última quinta-feira, 5 de dezembro, no aeroporto de Guarulhos. Em meio a informações conflitantes, passageiros tiveram de passar a madrugada no terminal, à espera da partida, inicialmente marcada para as 22h40m, que só ocorreria às 8h do dia seguinte.

O episódio foi registrado em vídeo, enviado com exclusividade ao GLOBO, por um engenheiro que pediu para não ser identificado. Ele era um dos cerca de 30 passageiros do voo 3335, no qual também embarcariam clientes que vinham de conexões de Nova York, Índia e Indonésia. Ao todo, cerca de 200 passageiros de conexões para diversas cidades brasileiras aguardavam no saguão por novas informações.

Segundo o relato do engenheiro, o horário de 22h40m teria sido mantido até as 0h30m. Os transtornos causados pelas fortes chuvas de quinta seriam o motivo para o atraso. A informação no aeroporto era de que faltava tripulação para atender aos passageiros.

Mais tarde, a empresa confirmou o voo para as 2h30m. No entanto, o horário não foi cumprido.

- À meia-noite e meia, anunciaram que nosso voo tinha sido confirmado para às 2h30m no portão 5 (o que mostrou-se somente uma artimanha para nos isolar em uma área mais remota do aeroporto). Aguardamos até um funcionário da Tam anunciar, para surpresa de todos, que serviriam um pacotinho de bolacha e um copo de suco para cada um – relatou o engenheiro.

Funcionário: ‘Tam não vai dar nada para vocês’

Pelas regras da Anac, em caso de atrasos superiores a duas horas, a empresa deve fornecer “alimentação adequada” aos passageiros. Em atrasos de mais de quatro horas, é necessário providenciar hospedagem e instalações adequadas. No entanto, alguns passageiros precisaram dormir no chão. A agência afirmou que a notificação à Tam foi motivada por “diversas observações” dos agentes nos aeroportos, em inspeções na semana passada, mas não confirmou que os problemas com o voo 3335, especificamente, estejam entre as falhas anotadas. O regulador orientou, ainda, que os passageiros que se sentiram lesados entrem em contato pelos canais de atendimento.

Um dos mais exaltados que aparece no vídeo, o professor Marcelo Marcio Xavier, que vinha de Nova York, afirma que um grupo de passageiros tentou protocolar uma reclamação no balcão da Anac, mas o sistema estava fora do ar. Ele chegou a organizar um abaixo-assinado, mas perdeu o contato com outros clientes. Agora, planeja ajuizar uma ação contra a Tam.

- Vou mover uma ação contra a Tam. Só para não deixar as coisas passarem em branco. Minha briga não é mais contra a Tam. É com o aeroporto, é com a Anac, por respeito ao brasileiro – diz Xavier, que conta que, em dado momento, um dos funcionários chegou a dizer que a Tam “não vai dar nada para vocês”.

Na partida, mais duas horas de espera no avião

Segundo os relatos, a madrugada foi marcada por tensão entre clientes e atendentes da empresa. A informação oficial só veio às 4h30m, com a marcação do voo para as 7h, que poderia ser antecipado ou atrasado. Às 6h, os passageiros foram encaminhados para um avião, que só decolaria por volta das 8h, após ser abastecido e receber um plano de voo.

- Tiveram a audácia de falar durante o embarque para nos dividirmos das fileiras de 1 a 16 no lado e as demais no outro para “agilizar o embarque”. Este momento foi surreal – contou R.A.

Procurada pela reportagem, a Tam confirmou que o voo foi cancelado por causa das fortes chuvas. A empresa afirma que prestou o atendimento possível, em um dia com muitos atrasos e cancelamentos por causa das condições meteorológicas. A empresa tem dez dias, contando de segunda-feira, para responder aos questionamentos da Anac.