Flávio Citro - Direito Eletrônico

Compras coletivas. Vale a pena?

Sem alternativa, Camila aguardou por dois meses até entrar em contato novamente com o estabelecimento, porém o telefone estava temporariamente fora de serviço. Após seis meses de muita insistência e com o voucher prestes a vencer, ela finalmente conseguiu utilizá-lo, porém teve mais uma surpresa. O salão simplesmente decidiu mudar o pacote de serviços que ela havia adquirido, passando a oferecer apenas escova e hidratação. “Não tive opção, afinal como já tinha pagado pelo serviço e o cupom estava por vencer, acabei aceitando. Acredito que o salão não deve ter estipulado um número máximo de cupons a serem vendidos, por isso não conseguiram atender à demanda que, com certeza, foi maior que a esperada”, opina.

Casos como esse vem acontecendo com certa frequência e o número de reclamações cresce, principalmente, na Internet; afinal, esses sites vêm revolucionando o setor no País e ganham cada vez mais espaço no dia a dia do consumidor.  Com origem nos Estados Unidos, esse conceito chegou ao Brasil em 2010 e, em poucos meses, virou febre entre consumidores e investidores. De acordo com informações de mercado, já existem mais de 1.200 sites desse tipo (em operação ou em fase de lançamento), oferecendo cupons com descontos que variam normalmente entre 50 e 90%.

O site Peixe Urbano foi o pioneiro no País, sendo inaugurado em março do ano passado, no Rio de Janeiro. “Começamos com uma base pequena com cerca de cinco mil pessoas cadastradas e hoje já chegamos aos mais de sete milhões”, afirma Letícia Leite, diretora do site Peixe Urbano. Hoje a marca ocupa a segunda posição entre os players do mercado e está presente em 54 cidades no País, e também em Buenos Aires, na Argentina. Porém é o site Groupon que realmente chama a atenção.

Criado em 2008 em Chicago, nos EUA, a empresa surgiu com a ideia de oferecer uma forma diferente para as pessoas descobrirem lugares interessantes em suas cidades. No Brasil o Groupon aterrisou em junho de 2010 sob o nome de Clube Urbano – assumindo seu nome original alguns meses depois. Segundo Florian Otto, CEO do Groupon Brasil, o site começou com duas mil pessoas cadastradas e hoje já conta com dez milhões, mais de 17 mil ofertas publicadas, cerca de 2,7 milhões de vouchers vendidos e presença em 45 países. No Brasil, o site está presente em 41 cidades. “Sempre visualizamos o Brasil como um foco de atuação pelo potencial de crescimento do país, pelo aumento do número de usuários de internet na região e pelo perfil de compras on-line e adesão das mídias sociais do brasileiro. O sucesso por aqui foi tão grande que atualmente a operação brasileira é a que mais cresce, atrás apenas dos Estados Unidos, da França e da Inglaterra, em faturamento”, afirma o executivo.

A mecânica do funcionamento desses sites é simples: todos os dias a empresa envia um e-mail para os membros cadastrados com ofertas de sua cidade. O serviço fica disponível para compra por até três dias – depende da oferta – e caso haja interesse a pessoa deve acessar o site e efetuar a transação tendo como opção diversos meios de pagamento, entre eles o cartão de crédito. Assim que terminar o período de disponibilidade, se o número mínimo de compras for atingido, o cliente receberá um e-mail de confirmação do pedido onde consta um voucher com um código. E é com esse material que o cliente pode ter acesso ao produto ou serviço oferecido, que precisa ser agendado e tem prazo para uso.

De acordo com Otto, as ofertas de maior sucesso são em áreas como gastronomia, beleza, hotelaria e turismo.”O recorde brasileiro que se mantém até o momento é de uma oferta da Oi Fotos, que disponibilizava impressão de fotos on-line. Foram mais de 81 mil vouchers vendidos”, revela.

As promoções nesses sites são realmente tentadoras, mas vale lembrar que como qualquer outra negociação é importante conhecer a empresa para não ter surpresas no futuro, como no caso da Camila.

Fique atento!

Apesar de as empresas verem nesses sites a oportunidade de divulgar sua marca sem custo algum, é preciso ficar atento ao anunciar seus produtos ou serviços, principalmente quanto à forma de remuneração do site. De acordo com Mariana Ferreira Alves, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), para que a empresa tenha uma propaganda favorável é importante que ela faça uma oferta bem esclarecedora, de fácil compreensão para o consumidor e que esse anúncio contenha todas as informações necessárias para que ele possa usufruir a contento da oferta. “O fornecedor precisa ter esse cuidado e cumprir com o que está sendo divulgado no site, caso contrário, a propaganda terá um efeito contrário”, orienta.

Para não cair em algum golpe, Paulo Arthur Góes, diretor-executivo do Procon-SP, dá algumas dicas. “É fundamental procurar saber a procedência da empresa que disponibilizará o serviço, além do site que está divulgando, fazendo uma consulta no Procon ou até mesmo nas redes sociais. Além disso, é preciso ter cuidado ao verificar as condições da oferta, como dias e horários em que a oferta é válida” diz.

Mesmo assim, caso o consumidor venha a ter problemas e se sinta lesado na hora de utilizar o voucher, basta procurar seus direitos. Segundo Mariana, a responsabilidade nesses casos é solidária. O consumidor pode optar por entrar com uma ação contra qualquer um dos fornecedores da cadeia de prestação de serviços, pois isso está estabelecido no Código de Defesa do Consumidor (CDC). “E se houver algum dano material ou moral em decorrência de atrasos, dependendo do caso o valor é devidamente corrigido e o cliente é restituído por meio de uma ação judicial”, conclui.

Números e tendências

No ano de 2010, o e-commerce brasileiro viveu um fenômeno inédito com a entrada desses novos players. Outros fatores relevantes para o superaquecimento do setor foi a consolidação de grandes grupos de varejo e o aumento da renda do consumidor. “O advento dos marcos econômicos no País na última década e a ascensão da classe C, de certa forma contribuíram para o varejo de forma geral, especialmente para o comércio eletrônico”, afirma Alexandre Umberti, diretor de marketing e produtos do E-bit, empresa especializada em fornecimento de informações sobre e-commerce.

O faturamento em 2010 foi de R$ 14,8 bilhões, um crescimento nominal de 40% diante dos  R$ 10,6 bilhões faturados em 2009. Esse resultado, aliás, superou a previsão anterior da empresa, que considerava um faturamento de R$ 14,5 bilhões.

Diante desse “boom”,  a E-bit, com apoio da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, desenvolveu para a 23º edição do relatório “WebShoppers” uma pesquisa que permite mapear de forma precisa como sites de compras coletivas e clube de compras se posicionam no mercado. Na pesquisa realizada em março deste ano com 4.536 pessoas, verificou-se que 61% dos entrevistados disseram conhecer esse conceito. Desses e-consumidores, 49% afirmaram já ter comprado alguma oferta, enquanto que 51% relataram não ter realizado nenhuma compra. Dos que já compraram, 82%, afirmam que pretendem comprar novamente nos próximos três meses. Com relação a forma como ficaram sabendo desses sites, 37% das pessoas afirmaram que foi por recomendação de amigos e parentes. Já 19% alegaram ter recebido uma promoção por e-mail.

“Hoje a compra na internet está muito equilibrada entre as classes A, B e C, as classes D e E estão à margem desse consumo. Além disso, a pesquisa revelou que as mulheres correspondem a maior parcela das compras coletivas”, conta Umberti.

O grau de satisfação também foi medido pelo estudo. Enquanto 74% dos entrevistados afirmaram estar no mínimo satisfeitos, 11% disseram estar insatisfeitos com os sites de compras coletivas.  Diante desses números surge uma questão. Será que as empresas estão realmente preparadas para prestar esse tipo de serviço e atender a uma demanda maior do que a rotineira?  E o consumidor está ciente dos seus direitos?

Embora o Procon-SP ainda não tenha dados específicos sobre reclamações referentes a esses sites, Góes considera que esse número tende a crescer. “Os consumidores estão aumentando a compra em sites desse tipo em função dos atrativos relacionados aos descontos nos produtos e serviços ofertados e, se as empresas não estiverem preparadas, o resultado não poderá ser diferente”, conclui.

Abaixo, os prós e contras dos sites de compras coletivas:

Prós

Preços baixos – O recurso mais chamativo desses sites são as ofertas, e a entrega gratuita, ou o preço reduzido.

  • Capacidade de lucro – Indivíduos de mente empreendedora podem investir em negócios anunciados, aumentando o lucro com merchandising.
  • Conectividade social – Muitos desses sites têm fóruns em que os consumidores podem conhecer e trocar recomendações e críticas.

Contras

  • Falta de atendimento ao cliente – O atendimento ao consumidor costuma ter pouca importância nesses sites.
  • 50% ou busto – Para os comerciantes há uma margem mínima de negócios. Tem de estar disposto a oferecer o produto ou serviço com 50% off.
  • Nenhum reembolso – Nesses sites não há reembolso ou troca. Se houver problema com o produto, o consumidor deve passar pelo fabricante ao invés do comerciante.

Leia mais:

Compra coletivas: você sabe usar?

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Compras coletivas: Groupon tem prejuízo milionário

E-commerce fatura R$ 8,4 bi no 1º semestre

Sex, 19 de Agosto de 2011 07:00 Raquel Sena Na Pele do Consumidor

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Site publicado em 04/05/2009
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