A cena é cada vez mais comum nos aeroportos brasileiros: embarcar em um avião e, ao chegar ao destino final, não receber a mala de volta, ou encontrá-la violada.
Só em 2010, foram 7.170 queixas envolvendo problemas com bagagens na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), um aumento de 74% em relação a 2009.
No mesmo período, a movimentação de passageiros aumentou 21% no país.
Segundo especialistas, além da falta de policiamento para prevenir furtos, o forte crescimento do setor sem melhorias de infraestrutura nos aeroportos tem contribuído para o aumento do extravio de bagagens.
O aeroporto de Guarulhos, maior do país, é um exemplo: não possui um leitor de código de barras para fazer a triagem automática de malas.
“Esses equipamentos ajudam muito e você fica menos sujeito a erro humano”, diz Ubiratan Lago, da Swiss Port, empresa especializada no manuseio de bagagens.
Nem Anac nem Infraero fornecem estatísticas sobre o extravio de malas, um problema que é global: no mundo, em 2009, a cada mil passageiros, 11,4 malas foram perdidas, diz a Sita, empresa de tecnologia da informação para o setor aéreo.
Mas o aumento das ocorrências no aeroporto internacional de Brasília fez o Ministério Público do DF abrir um inquérito para apurar responsabilidades.
“Não é possível, no país que vai sediar a Copa, a pessoa despachar a mala e não saber se vai recebê-la de volta”, afirma o promotor Guilherme Fernandes Neto, da 4ª Promotoria de Defesa do Consumidor.
Nos dois primeiros meses do ano, o Juizado Especial do aeroporto registrou 68 reclamações de extravios e 37 de violações ou furtos. “Há uma falta evidente de policiamento ostensivo dentro dos aeroportos”, diz o promotor.
Ele também quer apurar as responsabilidades das companhias aéreas e até, se for necessário, autuá-las.
Ao voltar de uma temporada de um ano em Londres, Mayara Alves Ricci desembarcou em São Paulo em abril do ano passado.
Sua segunda mala, não. Enquanto fazia o check-in, não reparou que não havia recebido o comprovante de uma – justo a extraviada.
Sem poder ter provas, Ricci ligou diariamente para a empresa aérea, a Iberia. Foi orientada a obter imagens das câmeras de segurança, o que considerou impossível.
Decidiu, então, enviar uma carta ao aeroporto de Heathrow, que, dois meses depois, a avisou que havia encontrado a mala e que a responsabilidade por enviá-la ao Brasil seria da Iberia.
“Uma semana depois a mala chegou, o cadeado estava aberto e tinham furtado meu Nike e canivete”, disse.
Elizabeth Veloso, 40, assessora legislativa, também sofreu com o problema. Teve uma mala extraviada no voo Brasília-SP da Gol em agosto do ano passado.
Descobriu em Guarulhos que embarcaria em duas horas para os EUA sem a mala, que só foi localizada em Curitiba e despachada para os EUA quatro dias depois. Ela processou a companhia.
“Minha viagem era de sete dias. Tive que comprar tudo e fiquei sem meus remédios.”
A Iberia não foi encontrada e a Gol informa que só se manifestará na Justiça.
Todo ano, 1 milhão de bagagens são furtadas ou perdidas para sempre no mundo. Cada país tem uma política com relação a malas que por algum motivo não se reencontraram com seus proprietários: uns doam para caridade, outros as vendem. (JC e MB)
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Devemos sempre tentar não despachar malas,tentando comprar o q for possivel no local de destino ,levando so o essencial na mala de mão!