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ADOLESCENTES E JOVENS NA MIRA DO MERCADO

Procon-SP lança manual para orientar sobre armadilhas do consumo quem tem entre criancasconsumidoras1.

Eles podem não ter talão de cheque, cartão de crédito ou mesmo dinheiro na conta, mas não há marca, produto ou serviço que não queira incluí-los na sua lista de clientes. Cada dia mais precocemente, adolescentes e jovens são o alvo preferencial do mercado, que quer garantir desde cedo a fidelidade a seus produtos e serviços. Esse assédio pode ser visto na publicidade, no aumento das contas universitárias, na farta distribuição de cartões de lojas e também nas taxas de inadimplência. No Rio, 36,8% dos inadimplentes têm até 30 anos, segundo o Clube de Diretores Lojistas (CDL). Preparar esses jovens para enfrentarem de forma crítica as armadilhas do consumismo é a proposta do “Manual do jovem consumidor”, lançado pela Fundação Procon-SP .

— O jovem é cada vez mais importante para o mercado de consumo. A publicidade é endereçada a eles, que ainda estão formando hábitos de consumo. Por isso, decidimos fazer uma publicação específica para esse público, de 15 a 30 anos, usando a linguagem deles e também abordando assuntos do seu cotidiano, como tatuagens, compras on-line, saídas noturnas. Como a cartilha está disponível para download na internet (tiny.cc/60x7o), esperamos que as informações circulem entre eles — diz Roberto Pfeiffer, diretor-executivo do Procon-SP.

Preocupado com o índice de inadimplência entre os jovens, a CDL também já pensa num projetos de orientação:

— Os jovens têm uma importância muito grande, basta ver a quantidade de produtos voltados exclusivamente para eles, tanto na área de moda como de tecnologia. Desenvolver uma campanha de educação e orientação visando ao esclarecimento sobre os malefícios da inadimplência e como evitá-los é um projeto de curto prazo — afirma Aldo Gonçalves, presidente do CDL-Rio.

Para Fernando Lucena, consultor de varejo do Grupo Friedman, a paquera entre empresas e jovens reflete uma grande competitividade:

— As empresas vêm sendo obrigadas a reduzir margens e, por isso, precisam captar esse cliente mais cedo, para aumentar sua rentabilidade. E cliente novo é bem informado e mais crítico. É preciso aprender a vender para eles.

O número de estandes de bancos na universidade a cada início de semestre é um termômetro do assédio, diz Felipe Chaves, de 23 anos:

— Eles oferecem conta sem precisar comprovar renda e com isenção de taxas. O problema é que muita gente chega à faculdade sem saber sequer o que é crédito — diz Felipe, que acha as ofertas da internet uma ameaça ao orçamento. — É clicar e passar o número do cartão de crédito. Eu mesmo já passei do limite e só me dei conta quando chegou a fatura. Como tinha poupança, não fiquei inadimplente.

As irmãs Beatriz e Júlia Magella, de 18 e 16 anos, tentam driblar a tentação consumista compartilhando roupas e acessórios.

— A cada festa, a ordem é comprar uma roupa nova, mas isso é insustentável. Por isso, eu e minha irmã compartilhamos roupas e trocamos com amigas — conta Beatriz.

Com a caixa de e-mail lotada de promoções, Júlia diz que já evita fazer cadastro nas lojas que frequenta:

— Tem loja que manda um e-mail por dia. E tem sempre promoção, novidades, vantagens. E isso é uma tentação. O problema é que o barato, como nunca é uma coisa só, sai caro.

Aos 19 anos, Yann Paranaguá reconhece que seu consumo não está de acordo com a maioria dos jovens que conhece. Para início de conversa, não há compra, diz, que não seja antecedida por pesquisa:

— Consumo aquilo que acho necessário e costumo comprar mais produtos tecnológicos. Mas não troco antes de ver se o novo produto tem realmente algo a mais. Pesquiso preço e vejo se há reclamações na internet, mas prefiro comprar na loja física. Tenho medo de ser lesado.

Para Carla Barros, antropóloga especializada em consumo, a questão não é consumir, são os excessos:

— Quando o consumo passa a ser fator de inclusão ou exclusão social, isso preocupa. O problema é que esse grupo ainda não tem maturidade. É preciso estar consciente de que o consumo, como qualquer outra área da vida, tem limites. É irreal pensar que é possível ter tudo. Também cabe aos pais estabelecer esses limites e dar o exemplo.

Para Heloisa Torres de Mello, gerente do Instituto Akatu — pelo Consumo Consciente, a questão é a inversão de valores:

— Hoje as pessoas vivem para consumir e não consomem para viver. E o jovem está muito exposto. É preciso informá-lo mais para que possa decidir com a consciência do impacto do seu consumo.

 Jornal: O GLOBO  Luciana Casemiro  13/06/2010

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Site publicado em 04/05/2009
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